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Mariana G. Chaves

CRP-04/72807

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Como saber se o adolescente precisa de ajuda psicológica?

  • Foto do escritor: Mariana  Chaves
    Mariana Chaves
  • 9 de abr.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 10 de abr.




O que entendemos hoje como adolescência reflete uma condição construída histórica e socialmente. Isso quer dizer que nem sempre, ao longo da história da civilização, a adolescência foi vista como uma “fase natural” do ciclo de vida do ser humano. Na verdade, essa ideia foi difundida somente no século XVIII, a partir da produção filosófica do francês Jean Jacques Rousseau.


Pensar no fenômeno da adolescência nesses termos permite que compreendamos o significado social, histórico e cultural dessa fase do desenvolvimento, para além das questões biológicas que lhe são particulares.


Por exemplo: ser um adolescente norte-americano em 2025 é uma experiência radicalmente diferente de ser adolescente estadunidense em 1950; da mesma forma, a experiência de um adolescente de classe média no Brasil distingue-se das vivências, possibilidades e expectativas de um jovem coreano (pegou a referência?).


Portanto, ao lidar com um adolescente, temos que pensar obrigatoriamente no contexto em que ele está inserido. Esse é o ponto de vista sociológico, que entende a adolescência como uma construção histórica e cultural, compreendida como um período de transição entre a infância e a fase adulta.





Por outro lado, quando falamos sobre adolescência a partir da perspectiva orgânica, nos referimos às características biológicas dessa fase do desenvolvimento, tais como a chegada da puberdade, o amadurecimento dos órgãos sexuais, o estirão de crescimento e as mudanças hormonais.





Finalmente, do ponto de vista psicanalítico, consideramos a adolescência como um período em que o sujeito se encontra em um processo de estruturação psíquica, que pode dar origem a graus diferenciados de sofrimento. Entender as particularidades dessa fase de vida pode nos ajudar a evitar dois movimentos distintos, mas que são amplamente difundidos atualmente:


  1. A patologização do sofrimento e a insistência em atribuir diagnósticos;

  2. A desatenção em relação aos sintomas e o desmerecimento das demandas psicológicas do adolescente.


Ou seja, temos que levar em consideração que: por um lado, o adolescente em sofrimento não necessariamente vai apresentar um transtorno psicológico ou psiquiátrico; por outro lado, isso não quer dizer que as queixas adolescentes devem ser desconsideradas, desacreditadas ou entendidas como exageradas e excessivamente dramáticas.




Assim, segundo o psicanalista Juan David Nasio (2011), é importante ouvir e ter sensibilidade para identificar se o sofrimento do adolescente é:


  1. Moderado, como no caso de uma neurose de crescimento saudável;

  2. Intenso, tal como se observa no caso de comportamentos perigosos e arriscados;

  3. Exacerbado, que pode desencadear o aparecimento de distúrbios mentais ainda na adolescência ou até mesmo na idade adulta.


Sobre o sofrimento moderado:

Mesmo em se tratando de um adolescente saudável, constata-se um sofrimento inconsciente que pode se manifestar através de angústia, tristeza e/ou revolta. Essa manifestação neurótica é, de acordo com o psicanalista Juan David Nasio (2011), não apenas saudável, mas também necessária para a estruturação psíquica.


É durante essa fase de desenvolvimento que o adolescente revive, questiona e reelabora o seu relacionamento com os pais (ou figuras parentais); experimenta o luto pela perda do corpo infantil e da sensação de onipotência (a criança tem a sensação de ser todo-poderosa); além de tentar equilibrar seus desejos naturais com as regras e expectativas familiares e sociais.


A escolha por tratar a adolescência como uma “neurose salutar de crescimento” (Nasio, 2011) auxilia a compreender essa difícil fase do desenvolvimento como um período que pode gerar sofrimentos físicos e psíquicos, estimulando o olhar empático, muitas vezes socialmente negado às pessoas dessa faixa etária.

Sobre o sofrimento intenso e exacerbado:

O sofrimento psicológico do adolescente pode se manifestar também de forma intensa – através de comportamentos perigosos, tais como:


  • Comportamentos depressivos;

  • Isolamento;

  • Tentativas de suicídio;

  • Uso e abuso de drogas;

  • Delitos e atos de violência – contra si mesmo e contra os outros.


O sofrimento exacerbado, por sua vez, pode dar origem a transtornos mentais que podem se prolongar durante a vida adulta, como:


  • Transtorno obsessivo-compulsivo (TOC);

  • Transtorno de ansiedade;

  • Fobias;

  • Distúrbios alimentares;

  • Depressões graves;

  • Episódios ou transtornos psicóticos.


Especificidades dos adolescentes de hoje em dia:

Quando a gente pensa na adolescência experimentada pelos jovens de hoje, percebemos algumas particularidades que contrastam - e muito - com as vivências dos adolescentes de uma ou duas décadas atrás.


Não podemos deixar de citar o acesso à informação e conteúdos por meio da internet, dos smartphones e das redes sociais. Nesse sentido, temos um mundo muito mais globalizado, em que é possível ter contato e consumir imagens, textos e vídeos sobre todos os assuntos imagináveis! E isso sem nem precisar entrar na discussão sobre o uso da Inteligência Artificial...


Mas o acesso irrestrito à tecnologia também pode ser prejudicial, na medida em que proporciona excesso de estímulos; estimula a comparação, impactando na autoestima; propaga ideais irreais de corpo, vida e profissões etc. Fato é que os jovens acabam se tornando mais vulneráveis a cyberbullying, assédio, discursos de ódio e outros tantos perigos - mesmo quando estão na escola ou dentro de casa.





Outro fator que podemos apontar é o fato de que o conflito entre gerações se dá, agora, de forma velada e menos evidente. Conflito esse que é fundamental para o desenvolvimento da identidade na juventude.


Não menos importante, observa-se uma fragilidade na transmissão de regras e limites, que pode levar a um sentimento de alheamento e desamparo, em vez de ajudar na formação do indivíduo.


Finalmente, deve-se considerar os efeitos da sociedade de consumo, em que a situação do adolescente é contraditória: enquanto a juventude é idealizada (em sua vitalidade, beleza e energia), os sentimentos e comportamentos naturais dessa fase são frequentemente condenados. Há um forte preconceito e uma falta de atenção à angústia que os adolescentes vivenciam. O jovem, assim, é aquele que todos desejam ser, mas com o qual ninguém gostaria de lidar.

Como proceder quando o adolescente está em sofrimento?

É extremamente importante que pais e profissionais que lidam com adolescentes em crise (grupo que comporta tanto aqueles que praticam comportamentos perigosos como aqueles acometidos por distúrbios mentais) fiquem atentos às manifestações de sofrimento.




Saber identificar sinais de crise e acolher esses adolescentes é, assim, fundamental para decidir quando e como intervir nessa fase do desenvolvimento.

Quando identificamos o sofrimento do adolescente, recomenda-se que se busque ajuda psicológica especializada.


Nesse sentido, o olhar integrado do psicanalista pode ser uma ferramenta importante para o atendimento do sujeito adolescente, propiciando que ele tenha acesso a uma intervenção precoce e, assim, com maiores chances de sucesso.





SOBRE MIM:

Meu nome é Mariana Chaves, sou psicóloga (CRP-04/72807), trabalho com a abordagem psicanalítica e ofereço um espaço seguro e acolhedor para adultos e adolescentes contarem a sua história, trabalharem as suas demandas e falarem sobre seus pensamentos, experiências e sentimentos mais profundos!

 


Se você tiver mais perguntas ou quiser agendar uma sessão, estou aqui para ajudar!


REFERÊNCIAS:

MARCELLI, D.; BRACONNIER, A. Adolescência e psicopatologia. Porto Alegre: Artmed, 2007.

MARTY, F.; CARDOSO, M. R. (orgs.). Destinos da adolescência. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2008.

NASIO, J. D. Como agir com um adolescente difícil? Um livro para pais e profissionais. Rio de Janeiro: Zahar, 2011.


 
 
 

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