Mitos e verdades sobre o tratamento psicanalítico
- Mariana Chaves
- 19 de mar.
- 5 min de leitura
Atualizado: 6 de abr.

Hoje em dia, a psicanálise está mais presente do que nunca no nosso dia a dia! Seus conceitos e práticas estão se espalhando além das universidades e círculos psicanalíticos ou intelectuais, alcançando um público muito maior. Termos como “recalque” e “narcisista” já fazem parte do nosso vocabulário cotidiano.
A internet desempenhou um papel fundamental nesse processo, permitindo que psicanalistas e estudiosos compartilhassem seus conhecimentos e divulgassem seu trabalho. Isso trouxe muitos benefícios, como um aumento no interesse pela psicoterapia com base na psicanálise.
Por outro lado, também enfrentamos alguns desafios. A complexidade da teoria psicanalítica pode ser simplificada demais, e alguns termos acabam sendo usados de forma superficial. Além disso, há o risco de preconceitos e ideias distorcidas sobre a psicanálise se espalharem.
Você já deve ter ouvido algumas afirmações como: “a psicanálise não tem comprovação científica”, “a análise é sempre muito demorada”, “na psicanálise, tudo gira em torno de questões sexuais” ou “a análise só fala do passado e não ajuda com problemas atuais”. É importante questionar essas ideias, pois muitas delas vêm de um senso comum que não captura a complexidade da teoria e das técnicas que sustentam o trabalho psicanalítico.
Devemos ter cuidado com o que consumimos, especialmente nas redes sociais. Muitas pessoas estão tão ansiosas por engajamento que acabam reproduzindo algumas ideias superficiais ou enviesadas sobre a psicanálise¹. Por isso, é fundamental buscar informações de fontes confiáveis e entender melhor o que realmente envolve a psicanálise.
É um momento fascinante, cheio de oportunidades e desafios, que nos convida a refletir sobre como entendemos a mente humana! Pensando nisso, decidi esclarecer algumas das principais dúvidas que as pessoas têm ao buscar uma psicoterapia ou análise pessoal.
Vem comigo?
Por que fazer análise?
Freud dizia que o objetivo da psicanálise não é apenas eliminar os sintomas, mas ajudar a pessoa a ter uma vida mais satisfatória, dentro do possível.

É importante notar que ele não usou a palavra "feliz", porque a felicidade é vista como um estado passageiro, que se alterna com momentos de desconforto e tristeza. Ninguém é feliz o tempo todo, e todos nós enfrentamos sofrimento em algum momento da vida.
Embora não possamos evitar o sofrimento, o trabalho analítico pode ajudar a torná-lo mais suportável.
Freud acreditava que o objetivo da análise consistia em transformar um sofrimento intenso em algo mais comum e menos doloroso².
A ideia é que, ao entender melhor a si mesmo e suas experiências, a pessoa possa viver de forma mais ativa e prazerosa. Isso mostra como o trabalho na psicanálise é profundo e complexo.
Preciso ter conhecimento teórico sobre psicanálise para iniciar uma análise pessoal?
De forma alguma! Inclusive, muitos pacientes, ao buscar um tratamento psicológico, não têm conhecimento sobre a existência de diferentes abordagens. A tendência de pesquisa por abordagens específicas tem se intensificado apenas recentemente, justamente devido ao aumento da conscientização sobre o cuidado em saúde mental, à facilidade de acesso à informação e à diminuição do preconceito em relação aos transtornos mentais.
Não é necessário ter conhecimento prévio sobre as abordagens para iniciar um trabalho terapêutico. O profissional pode, se achar pertinente e benéfico para o tratamento, realizar intervenções pontuais e explicar alguns processos psíquicos ou conceitos relevantes. Esse processo de esclarecimento é conhecido como psicoeducação na psicologia.
No caso mais específico da psicanálise, o paciente deve apenas estar aberto ao processo e disposto a explorar suas experiências, pensamentos e emoções, independentemente do seu nível de conhecimento prévio sobre a teoria.
É possível fazer análise online?
Sim! O atendimento psicológico remoto é viável, inclusive na abordagem psicanalítica.

O Conselho Federal de Psicologia³ permite e regulamenta consultas feitas por meio de tecnologias, desde que sejam respeitados os princípios éticos da profissão, como o sigilo. Para participar de uma psicoterapia online, é necessário ter acesso à internet (embora também seja possível atender por telefone), um dispositivo eletrônico (como smartphone, tablet ou computador) e um ambiente privado e tranquilo para as sessões.
Entre as vantagens do atendimento psicológico remoto estão: economia de tempo e dinheiro, a eliminação da necessidade de deslocamento, maior flexibilidade para se ajustar à rotina, praticidade e melhor acesso a profissionais e serviços.
No entanto, existem algumas desvantagens, como possíveis problemas de conexão à internet. Além disso, há situações em que o atendimento remoto pode não ser adequado; cabe ao profissional identificar essas limitações e sugerir a mudança para o atendimento presencial (quando possível) ou encaminhar o paciente a outro especialista.
Psicanalistas só escutam e não falam nada durante a sessão?
Não, porém depende. O analista faz intervenções quando julga necessário. Mas existem muitas variáveis, que envolvem características pessoais do profissional e do paciente, o vínculo estabelecido entre eles, a linha teórica do profissional (pois a psicanálise não é homogênea e existem diversas abordagens dentro da própria psicanálise) etc.
Eu, particularmente, costumo fazer perguntas, especialmente quando o vínculo ainda está sendo construído ou quando o paciente tem muita resistência para falar. Mas o foco da análise é, sim, a fala do paciente - de preferência, a fala mais livre possível. Na análise, o paciente deve falar sobre tudo o que lhe vier à cabeça, mesmo que pareça insignificante, sem sentido ou desconfortável de se dizer. O espaço da análise não comporta julgamentos sociais - e o analista acolhe mesmo o discurso que o próprio analisando julgaria "vergonhoso" ou "condenável" de ser dito em outras esferas.
O analisando deve ter curiosidade sobre si mesmo e não esperar que o analista dê todas as respostas ou soluções. Afinal, cada pessoa é quem melhor se conhece e será responsável por lidar com as consequências de suas próprias escolhas.
O processo de análise é uma chance de explorar seus pensamentos e sentimentos, permitindo que você compreenda melhor seus desejos. Ao fazer isso, você aprende a assumir esses desejos, aceitando os riscos e as diversas consequências que podem surgir dessa jornada. Essa exploração pode levar a um autoconhecimento mais profundo e a decisões mais alinhadas com quem você realmente é.
O papel do analista é ser um intermediário nessa caminhada. Ele propicia um local seguro, acolhedor e sem julgamentos para que o paciente fale – sobre absolutamente tudo o que quiser.
Esse espaço de fala se transforma, assim, em um espaço de escuta. O profissional escuta o paciente, é claro! Mas não só isso. Torna-se possível que o paciente escute a si mesmo.
E quantas vezes já presenciei pacientes se surpreendendo com as próprias verbalizações! Isso é algo lindo de se ver!
Por isso a linguagem é tão importante em uma análise, pois é uma das maneiras pelas quais se pode entrever alguns aspectos do inconsciente do analisando.
Costumo dizer que o analista é como um instrumento ou um mediador. Ele ajuda o analisando a ajudar a si mesmo.

SOBRE MIM:
Meu nome é Mariana Chaves, sou psicóloga (CRP-04/72807), trabalho com a abordagem psicanalítica e ofereço um espaço seguro e acolhedor para você contar a sua história, trabalhar as suas demandas e falar sobre seus pensamentos, experiências e sentimentos mais profundos!
Se você tiver mais perguntas ou quiser agendar uma sessão, estou aqui para ajudar!
REFERÊNCIAS:
1 GABRIEL, R. de S. Do divã para as redes: como a psicanálise conquistou a internet. O Globo, 22 fev. 2022. Cultura. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/do-diva-para-as-redes-como-psicanalise-conquistou-internet-1-25399047. Acesso em: 19 mar. 2025.
2 FREUD, S. Projeto para uma psicologia científica (1895). In: FREUD, S. Edição standard das obras completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996. v. 1.
3 CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP N° 011/ 2012. Regulamenta os serviços psicológicos realizados por meios tecnológicos de comunicação a distância, o atendimento psicoterapêutico em caráter experimental e revoga a Resolução CFP N.º 12/2005. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2012/07/Resoluxo_CFP_nx_011-12.pdf. Acesso em: 19 mar. 2025.
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